domingo, 26 de novembro de 2017

COMO VOCÊ INTERPRETA?! – XXXV

Na sequência do diálogo com André, no capítulo 38, Tobias escuta dele o seguinte argumento, que, aliás, é o argumento de muitos que não concordam com a união esponsalícia dos espíritos além da morte do corpo carnal.
- Muitas vezes já lembrei, com interesse, a passagem evangélica em que o Mestre nos promete a vida dos anjos, quando se referiu ao casamento na eternidade.
Ao que Tobias, responde:
- Forçoso é reconhecer, todavia, com toda a nossa veneração ao Senhor (...), que ainda não nos achamos na esfera dos anjos e, sim, dos homens desencarnados.
Infelizmente, devido à forte sugestão mental recebida ao longo dos séculos, prevalece entre muitos adeptos do Espiritismo a ideia de que o Mundo Espiritual é extremamente sui generis, nada tendo a ver com o Mundo Material, quando já se sabe que nas Esferas próximas ao orbe terrestre a humanidade dos espíritos continua.
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Apenas a título de reflexão sobre tema tão transcendente, remetemos os nossos irmãos e irmãs internautas à questão 695, de “O Livro dos Espíritos”: - O casamento, ou seja, a união permanente de dois seres, é contrária à lei natural? Resposta: - É um progresso na marcha da Humanidade.
Notemos que fica subentendido que a união matrimonial, ou seja, a união permanente entre dois seres, através do casamento, (aqui não há qualquer referência à sexualidade) “é um progresso na marcha da Humanidade”, que, evidentemente, continuará marchando...
Adiante, na pergunta 697, apenas também a título de ilustração, os Espíritos Superiores afirmam que a indissolubilidade absoluta do casamento é uma lei humana, “muito contrária à lei natural”.
Tobias, em seu diálogo com André Luiz, esclarece que “o verdadeiro casamento é de almas e essa união ninguém poderá quebrantar” – e nem haverá necessidade de formalizar.
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Aproveitamos para comentar que, neste aspecto, muitos têm cogitado de qual seria a “alma gêmea” de Jesus Cristo. Sinceramente, consideramos tal especulação inteiramente despropositada. Aliás, tudo o que se refere à evolução do Cristo, em termos de nossas especulações humanas, de encarnados e desencarnados, é infantilidade. Inútil perda de tempo, discussões em torno, por exemplo, da “alma gêmea do Cristo”, da natureza de seu corpo, e mesmo a respeito de onde Ele teria estado dos 12 aos 30 de idade! Cremos que tais discussões apenas e tão somente nos fazem desviar o foco de nossas atenções, que deve se concentrar sobre a excelência de suas Palavras. Batráquios, ou, menos que isto, vermes, não podem compreender a natureza do Sol! Minhocas têm é que continuar comendo terra e produzindo húmus...
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Bem, para não nos estendermos, diremos: Tobias, em “Nosso Lar”, residia, na mesma casa, com Hilda, a esposa, e Luciana, a companheira que, quando Hilda desencarnou, tomara o seu lugar, auxiliando Tobias a criar os dois filhos menores.
Hilda, explica a André, que, na condição de desencarnada, vitimada por excessivo ciúme, ou sentimento de posse, começou a perseguir Luciana. Foi quando, recebendo a visita da avó materna, registrou as suas sábias palavras, ditas com brandura e energia:
- Que é isso, minha neta? Que papel é o seu na vida? Você é leoa ou alma consciente de Deus? Pois nossa irmã Luciana serve de mãe a seus filhos, funciona como criada de sua casa, é jardineira do seu jardim, suporta a bílis do seu marido e não pode assumir o lugar provisório de companheira de lutas, ao lado dele? É assim que o seu coração agradece os benefícios divinos e remunera aqueles que o servem? Quer você uma escrava e despreza uma irmã?”
Ao término da conversa em torno de assunto tão complexo, Hilda, percebendo o pensamento de André Luiz, arremata:
- Fique tranquilo. Luciana está em pleno noivado espiritual. Seu nobre companheiro de muitas etapas terrenas precedeu-a há alguns anos, regressando ao círculo carnal. No ano próximo, ela seguirá igualmente ao seu encontro. Creio que o momento feliz será em São Paulo.
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Maravilhosa lição, mas que poderão compreender apenas aqueles que já se libertaram um tanto do sentimento de posse e logram uma visão mais profunda do amor em sua essência.

INÁCIO FERREIRA

Uberaba – MG, 27 de novembro de 2017.